Por Macksen Luiz (Jornal do Brasil):
"O musical Gota d'água, de Paulo Pontes e Chico Buarque de Holanda, em cartaz no Teatro Glória, baseado na tragédia Medéia, a cada montagem permite constatar a permanência, dramatúrgica e a força poética de texto escrito com substrato social bastante marcado. O que se constata em mais esta versão, dirigida por João Fonseca, é que se mantêm as características de poética popular, sensibilizando platéias pela emocionalidade da trama, e, residualmente, pela confirmação de suas pretensões "políticas". A eficiência comunicativa do texto, além da trilha musical já clássica, e a estrutura narrativa que sustenta a construção da vingança de Joana/Medéia são atrativos para que surjam sucessivas montagens.
João Fonseca procurou reforçar o caráter de "espetáculo musical" desta tragédia à brasileira, com relativa dispersão dramática, desviando-se para exposição explícita dos elementos cênicos mais próximos aos códigos dos musicais à americana. O desenho da montagem obedece a uma ordenação espacial, em que os conjuntos formam massa visual, com as cenas mais individualizadas apoiadas nesta ambientação compacta. O cenário de Nello Marrese complementa esta concepção com praticáveis que são manipulados pelos atores, compondo com o painel do fundo, desvendado apenas no final do primeiro ato a visualidade algo obscura, mas eficiente. O acréscimo de três músicas inéditas, escritas pelo diretor musical Roberto Burgel, que, independentemente de suas qualidades, ainda que seja difícil competir com a trilha original, reconfirma essa tendência a um certo modelo de musical.
Em conjunto com a coreografia de Édio Nunes, que, mesmo simplista, não consegue ser bem executada por elenco sem rudimentos técnicos para a dança, desenha-se o espírito da encenação. Apenas na parte vocal é que os atores se saem de maneira bastante satisfatória, enfrentando, com bravura, as dificuldades da sofisticada partitura, e levando a poesia das letras com exata carga dramática.
O elenco demonstra equilíbrio nas interpretações, que se revelam harmoniosas em conjunto e com alguns destaques individuais. Lilian Valeska sobressai pela sua potência vocal e Sheila Matos pela musicalidade e elasticidade corporal. Pedro Lima compõe com o registro da voz um tipo circunstancial. André Araújo vive, numa atuação manemolente, o malandro, e Luca de Castro empresta um ar de sabedoria ao velho militante grevista. Karen Coelho incorpora com a devida inconseqüência a rival de Joana. Kelzy Ecard, com boa voz e tensão dramática, interpreta a vizinha Corina. Lucci Ferreira cresce em cena, na medida em que Jasão se desenvolve como personagem. Thelmo Fernandes esboça com ótima presença a figura de Creonte quando o diretor enfatiza a encenação como um musical, e ganha projeção e densidade, quando o personagem demonstra a extensão de seus métodos de dominação. Izabella Bicalho, com voz educada e domínio emocional vence o desafio de interpretar Joana".
João Fonseca procurou reforçar o caráter de "espetáculo musical" desta tragédia à brasileira, com relativa dispersão dramática, desviando-se para exposição explícita dos elementos cênicos mais próximos aos códigos dos musicais à americana. O desenho da montagem obedece a uma ordenação espacial, em que os conjuntos formam massa visual, com as cenas mais individualizadas apoiadas nesta ambientação compacta. O cenário de Nello Marrese complementa esta concepção com praticáveis que são manipulados pelos atores, compondo com o painel do fundo, desvendado apenas no final do primeiro ato a visualidade algo obscura, mas eficiente. O acréscimo de três músicas inéditas, escritas pelo diretor musical Roberto Burgel, que, independentemente de suas qualidades, ainda que seja difícil competir com a trilha original, reconfirma essa tendência a um certo modelo de musical.
Em conjunto com a coreografia de Édio Nunes, que, mesmo simplista, não consegue ser bem executada por elenco sem rudimentos técnicos para a dança, desenha-se o espírito da encenação. Apenas na parte vocal é que os atores se saem de maneira bastante satisfatória, enfrentando, com bravura, as dificuldades da sofisticada partitura, e levando a poesia das letras com exata carga dramática.
O elenco demonstra equilíbrio nas interpretações, que se revelam harmoniosas em conjunto e com alguns destaques individuais. Lilian Valeska sobressai pela sua potência vocal e Sheila Matos pela musicalidade e elasticidade corporal. Pedro Lima compõe com o registro da voz um tipo circunstancial. André Araújo vive, numa atuação manemolente, o malandro, e Luca de Castro empresta um ar de sabedoria ao velho militante grevista. Karen Coelho incorpora com a devida inconseqüência a rival de Joana. Kelzy Ecard, com boa voz e tensão dramática, interpreta a vizinha Corina. Lucci Ferreira cresce em cena, na medida em que Jasão se desenvolve como personagem. Thelmo Fernandes esboça com ótima presença a figura de Creonte quando o diretor enfatiza a encenação como um musical, e ganha projeção e densidade, quando o personagem demonstra a extensão de seus métodos de dominação. Izabella Bicalho, com voz educada e domínio emocional vence o desafio de interpretar Joana".
Publicada em: 01/11/2007.
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