"Muita gente que entrou ontem no Centro Cultural de Belém para assistir à estreia do musical Gota d’Água de Chico Buarque, desconhecia o nome da protagonista e produtora Izabella Bicalho. Alguns poderiam até lembrar-se de participações espaçadas em novelas, inclusivamente O Sítio do Picapau Amarelo, mas poucos estavam preparados para se lançarem aos seus pés. Mas foi isso que aconteceu, a rendição do público à presença efusiva de Bicalho foi total e extasiante.
Tudo se enquadra numa adaptação de uma tragédia grega de Eurípedes, Medeia, à realidade social do Brasil. Conta a história de Joana, uma mulher de quarenta anos, que é abandonada com os seus filhos por Jasão, um homem a quem dedicou dez anos da sua vida apenas para ser trocada por uma substituta mais nova e endinheirada. A pobreza das favelas e o desespero das suas gentes é aqui misturada com engenho com os traços mais denomináveis do material de origem, exacerbando os sentimentos de vingança e revolta de Joana até eles ficarem bem à flor-da-pele, sufocantes e impugnáveis.
A música de Chico Buarque, a composta para a peça entre as outras canções, ganha um novo fulgor quando vemos a espiral de cólera tomar a cena. O elenco é competente, nomeadamente Cláudio Lins, mas parece que só quando Bicalho e a sua personagem entram em cena que a peça realmente começa e a partir daí as poucas incongruências cénicas que minaram as primeiras canções desvanecem e a sublimidade mantém-se até as cortinas cerrarem. Izabella Bicalho cedo arrebata o público com a sua entrega esgotante na interpretação de temas tão memoráveis quanto ‘Bem Querer’, ‘O Que Será’ e ‘Gota d’Água’, clássicos da música popular brasileira que se enaltecem na voz revoltada e torturada da actriz. No final, exausta e sem mais nada para dar, agradece com graciosidade a presença e recepção do público. Este responde da única maneira possível: em sonante ovação".
Por Nuno Gonçalves - Blog "O Homem que Viveu Duas Vezes" http://ohomemqueviveuduasvezes.blogspot.com/2009/05/na-sombra-de-medeia.html
Tudo se enquadra numa adaptação de uma tragédia grega de Eurípedes, Medeia, à realidade social do Brasil. Conta a história de Joana, uma mulher de quarenta anos, que é abandonada com os seus filhos por Jasão, um homem a quem dedicou dez anos da sua vida apenas para ser trocada por uma substituta mais nova e endinheirada. A pobreza das favelas e o desespero das suas gentes é aqui misturada com engenho com os traços mais denomináveis do material de origem, exacerbando os sentimentos de vingança e revolta de Joana até eles ficarem bem à flor-da-pele, sufocantes e impugnáveis.
A música de Chico Buarque, a composta para a peça entre as outras canções, ganha um novo fulgor quando vemos a espiral de cólera tomar a cena. O elenco é competente, nomeadamente Cláudio Lins, mas parece que só quando Bicalho e a sua personagem entram em cena que a peça realmente começa e a partir daí as poucas incongruências cénicas que minaram as primeiras canções desvanecem e a sublimidade mantém-se até as cortinas cerrarem. Izabella Bicalho cedo arrebata o público com a sua entrega esgotante na interpretação de temas tão memoráveis quanto ‘Bem Querer’, ‘O Que Será’ e ‘Gota d’Água’, clássicos da música popular brasileira que se enaltecem na voz revoltada e torturada da actriz. No final, exausta e sem mais nada para dar, agradece com graciosidade a presença e recepção do público. Este responde da única maneira possível: em sonante ovação".
Por Nuno Gonçalves - Blog "O Homem que Viveu Duas Vezes" http://ohomemqueviveuduasvezes.blogspot.com/2009/05/na-sombra-de-medeia.html
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