1. Chico Buarque
Podem-se levantar vozes a dizer que o Chico cantor é melhor que o Chico compositor para teatro. Podem. Mas quando se fala de Chico Buarque, dizer que um é melhor que o outro não indica que o segundo seja mau, apenas que não é tão excepcional. "Gota d'Água", que estreou em 1975, em plena ditadura militar brasileira, foi o terceiro espectáculo que o carioca musicou, depois de "Roda Viva" (1968) e "Calabar" (1973), e imediatamente antes da célebre "Ópera do Malandro" (1978). Do musical, que o carioca escreveu com Paulo Pontes a partir da tragédia "Medeia", de Eurípides, fazem parte temas célebres como "Gota d'Água", "Flor da Idade" e "Basta um Dia". Três exemplos de como as obras-primas podem ter apenas três minutos.
2. As músicas que foram acrescentadas
Nesta nova versão do musical, encenado por João Fonseca, foram acrescentados ao repertório original dois temas de Chico Buarque escritos na mesma época: "Partido Alto" (1972) e "O que será (à flor da pele)" (1976), provavelmente uma das mais bonitas canções do músico carioca, e que no espectáculo entra a seguir a uma briga terrível do casal protagonista. Há mais canções, o que é sempre uma boa notícia e mais uma excelente razão para se ir ao CCB ver este musical.
3. Izabella Bicalho
Nos anos 80, foi a Narizinho do "Sítio do Pica-Pau Amarelo", uma miúda de lacinhos no cabelo e muita imaginação na cabeça. Agora Izabella Bicalho é a actriz a quem cabe o papel que nos anos 70 foi de Bibi Ferreira: o da protagonista, Joana, uma Medeia latina e muito emotiva que pega na tragédia da Medeia grega e a multiplica por mil, como só o povo latino pode fazer. Na verdade, Bicalho, que também já foi Carmen Miranda no musical de Miguel Falabella, "South American Way", não é só a actriz com o papel principal nas mãos. A remontagem de "Gota d'Água" é um projecto seu, e entre direitos de autor, financiamento e reunião do elenco, demorou três anos a concretizar. No espectáculo, a actriz contracena com Cláudio Lins (que já entrava na remontagem da "Ópera do Malandro") e Armando Babaioff.
4. Inventividade da adaptação
É caso para dizer que da tragédia do grego Eurípides só ficou a espinha e a estrutura em verso. De resto, tudo foi adaptado. Em vez de em Corinto, a acção passa-se na Vila do Meio-Dia, nos subúr- bios de uma cidade brasileira. Em vez de Medeia, a personagem principal chama-se Joana, que não é feiticeira mas uma espécie de defensora dos pobres e oprimidos. Jasão, por quem a protagonista se apaixona e por quem é traída, é um homem mais novo que alcança o sucesso através de um samba que compôs, o "Gota d'Água", e Creonte é um especulador imobiliário que cobra rendas exorbitantes. "Gota d'Água" é uma tragédia, sim, mas pouco grega e muito brasileira usada no tempo da censura para falar da luta de classes e onde há e até capoeira.
5. A onda de boas críticas e prémios
A temporada de "Gota d'Água" no Brasil diz muito do seu sucesso. O espectáculo, que estreou no Rio de Janeiro em Outubro de 2007, devia ter estado dois meses em cena, mas acabou por ficar um ano e meio em cartaz devido à enorme afluência do público. Pelo caminho foi conquistando prémios: o Prémio Shell, o Prémio APTR da crítica, o Prémio Contigo e o Prémio Qualidade Brasil.
Podem-se levantar vozes a dizer que o Chico cantor é melhor que o Chico compositor para teatro. Podem. Mas quando se fala de Chico Buarque, dizer que um é melhor que o outro não indica que o segundo seja mau, apenas que não é tão excepcional. "Gota d'Água", que estreou em 1975, em plena ditadura militar brasileira, foi o terceiro espectáculo que o carioca musicou, depois de "Roda Viva" (1968) e "Calabar" (1973), e imediatamente antes da célebre "Ópera do Malandro" (1978). Do musical, que o carioca escreveu com Paulo Pontes a partir da tragédia "Medeia", de Eurípides, fazem parte temas célebres como "Gota d'Água", "Flor da Idade" e "Basta um Dia". Três exemplos de como as obras-primas podem ter apenas três minutos.
2. As músicas que foram acrescentadas
Nesta nova versão do musical, encenado por João Fonseca, foram acrescentados ao repertório original dois temas de Chico Buarque escritos na mesma época: "Partido Alto" (1972) e "O que será (à flor da pele)" (1976), provavelmente uma das mais bonitas canções do músico carioca, e que no espectáculo entra a seguir a uma briga terrível do casal protagonista. Há mais canções, o que é sempre uma boa notícia e mais uma excelente razão para se ir ao CCB ver este musical.
3. Izabella Bicalho
Nos anos 80, foi a Narizinho do "Sítio do Pica-Pau Amarelo", uma miúda de lacinhos no cabelo e muita imaginação na cabeça. Agora Izabella Bicalho é a actriz a quem cabe o papel que nos anos 70 foi de Bibi Ferreira: o da protagonista, Joana, uma Medeia latina e muito emotiva que pega na tragédia da Medeia grega e a multiplica por mil, como só o povo latino pode fazer. Na verdade, Bicalho, que também já foi Carmen Miranda no musical de Miguel Falabella, "South American Way", não é só a actriz com o papel principal nas mãos. A remontagem de "Gota d'Água" é um projecto seu, e entre direitos de autor, financiamento e reunião do elenco, demorou três anos a concretizar. No espectáculo, a actriz contracena com Cláudio Lins (que já entrava na remontagem da "Ópera do Malandro") e Armando Babaioff.
4. Inventividade da adaptação
É caso para dizer que da tragédia do grego Eurípides só ficou a espinha e a estrutura em verso. De resto, tudo foi adaptado. Em vez de em Corinto, a acção passa-se na Vila do Meio-Dia, nos subúr- bios de uma cidade brasileira. Em vez de Medeia, a personagem principal chama-se Joana, que não é feiticeira mas uma espécie de defensora dos pobres e oprimidos. Jasão, por quem a protagonista se apaixona e por quem é traída, é um homem mais novo que alcança o sucesso através de um samba que compôs, o "Gota d'Água", e Creonte é um especulador imobiliário que cobra rendas exorbitantes. "Gota d'Água" é uma tragédia, sim, mas pouco grega e muito brasileira usada no tempo da censura para falar da luta de classes e onde há e até capoeira.
5. A onda de boas críticas e prémios
A temporada de "Gota d'Água" no Brasil diz muito do seu sucesso. O espectáculo, que estreou no Rio de Janeiro em Outubro de 2007, devia ter estado dois meses em cena, mas acabou por ficar um ano e meio em cartaz devido à enorme afluência do público. Pelo caminho foi conquistando prémios: o Prémio Shell, o Prémio APTR da crítica, o Prémio Contigo e o Prémio Qualidade Brasil.
Fonte: Portal Informação (Portugal) - 08/05/2009.
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