segunda-feira, 22 de junho de 2009

Musical de Chico Buarque encerra turnê em Portugal



PATRÍCIA DANTAS
colaboração para a Folha Online, em Lisboa


O musical "Gota d'Água", de Chico Buarque e Paulo Pontes, encerrou a turnê de um mês por Portugal com sessão extra no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, na noite desta segunda-feira (25).

Com direção de João Fonseca, o espetáculo emocionou o público português ao contar a história trágica de Joana (Izabella Bicalho), moradora do conjunto habitacional Vila do Meio-Dia, abandonada com os dois filhos pelo marido Jasão (Armando Babaioff), que a deixa para casar com uma mulher mais jovem e rica, Alma (Maria Kastemberg), filha de seu empresário Creonte (Cláudio Lins).

Como vingança ao marido ingrato, que desfruta do sucesso nas rádios do seu samba "Gota d'Água", ela mata os próprios filhos antes de cometer suicídio.

A montagem original, de 1975, adaptação da tragédia "Medeia", de Eurípedes, à realidade brasileira, ganhou uma visão contemporânea e novos arranjos musicais, em canções como "Gota d'Água", "Vila do Meio-Dia" e "Comadre Joana", além da inclusão dos clássicos "O que Será (À Flor da Pele)" e "Partido Alto".

Na plateia, nomes conhecidos da classe artística portuguesa se comoveram com a grandiosidade do universo de Chico Buarque.

"É emoção pura, um texto brutal, divino. Sem contar a sutileza do Chico em retratar o dia-a-dia, é muito atual a história. O elenco é extraordinário, chorei por dentro, foi difícil conter a emoção", disse a fadista portuguesa Mafalda Arnauth.

"Não tinha a noção da força que a música do Chico Buarque possui. Acho que ele escreve para palco, para teatro, tamanha magnitude de suas canções, comentou a modelo Nayma Mingas.

Ao todo, foram 14 apresentações nas cidades de Guimarães, Lisboa, Caldas da Rainha, Estarreja, Figueira da Foz, Porto e Faro durante o mês de maio.

"Vim rever alguns amigos, pessoas que já trabalharam na "Ópera do Malandro". Ainda não conhecia esse novo musical do Chico, mas reconheci algumas músicas durante o espetáculo. Gostei muito do musical, a voz é fantástica, o elenco está de parabéns", disse o ator português Duarte Guimarães, que já contracenou com Cláudio Lins na novela brasileira "Sabor da Paixão".

No fim do musical, o elenco, composto por dez atores, duas crianças e banda ao vivo, teve o esforço retribuído em forma de muitos aplausos por parte do público.

"Muito obrigada pelo carinho. Estamos encerrando a temporada de um mês em Portugal hoje. Quero agradecer a todos. Foi um trabalho muito grande e a peça foi um sucesso graças a esse trabalho de equipe", disse Izabella Bicalho, emocionada.

Bastidores

Fechadas as cortinas, o elenco comemorou o sucesso da turnê por Portugal, com muitas sessões esgotadas, entre amigos e produção no backstage.

"A turnê superou minhas expectativas. O musical foi muito bem recebido pelo público, sempre caloroso. Nós voltamos várias vezes para receber os aplausos, com certeza vai ficar na memória", disse Izabella Bicalho, protagonista do musical na pele de Joana.

A atriz sentiu uma grande diferença entre a recepção do espetáculo pelos portugueses em relação ao público brasileiro.

"Aqui eles são mais concentrados, compenetrados. Houve alguns finais de números que esperávamos aplausos e não acontecia. Algumas piadas só funcionam aqui também, a reação do público ocorria, muitas vezes, em momentos diferentes dos quais estamos acostumados no Brasil".

Cláudio Lins, que interpreta o empresário Creonte em "Gota d'Água", definiu como "incrível" o retorno aos palcos portugueses, depois de já ter encenado em Portugal o espetáculo "Ópera do Malandro", também de autoria de Chico Buarque.

"Foi espetacular. Recebemos tanto carinho dos portugueses, esse país é muito especial. Voltamos para duas, três cortinas no final de cada apresentação. Foi um presente voltar com este musical", resumiu.

Estreia internacional

Já para Armando Babaioff, que substituiu o ator André Arteche na pele de Jasão especialmente para a turnê internacional, integrar o elenco do musical teve um significado a mais.

"É a primeira vez que estreio uma peça fora do meu país, e logo na Europa, velho Continente. Foi ótimo. O público aqui reage de maneira diferente ao texto. Os portugueses também são muito respeitosos, fiquei surpreso com o tempo de duração dos aplausos, cinco, dez minutos. A expectativa agora é muito grande para ver como será no Brasil, não vejo a hora.", comentou.


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